O Repórter

A queda de Boris Johnson: do Brexit aos escândalos

Premiê britânico teve vida marcadas por polêmicas

Por Agência Ansa
07 de julho de 2022 às 12:55
Atualizada em 07 de julho de 2022 às 14:54
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EPA
Johnson ficou no cargo por cerca de três anos
Johnson ficou no cargo por cerca de três anos

LONDRES - O "homem do Brexit" e talvez o líder conservador britânico mais histriônico, desgrenhado e inclinado a gafes da história moderna concluiu a sua corrida caindo perante o obstáculo intransponível dos escândalos internos.

Boris Johnson, 58 anos, se prepara para deixar definitivamente o cargo de primeiro-ministro que perseguiu por uma vida com a ilusão de se tornar uma espécie de herdeiro de Winston Churchill. Nesta quinta-feira (7), anunciou a contragosto que deixará o cargo para permitir que os "tories" sigam adiante no poder.

Uma corrida que terminou muito antes do que a de seu ídolo, depois de pouco mais de três anos transcorridos grande parte em um montanha russa constante entre triunfos eleitorais e alguns sucessos nacionais, como a campanha de vacinação contra a Covid-19, passando pela passarela internacional dos compromissos em apoio à Ucrânia invadida pela Rússia de Vladimir Putin, mas também com passos em falsos e erros em série de avaliação e de julgamento.

Tudo isso foi vivido com a "segurança" de ser um gato de nove vidas, como se diz nos países anglo-saxões, e a convicção de ser um predestinado quase que por direito de nascimento. Mas, em um quadro no qual sua capacidade retórica, as citações astutas e um certo populismo não foram capazes de salvá-lo.

Johnson, o BoJo, é filho do ex-deputado conservador do Parlamento Europeu, Stanley Johnson, e de uma pintora, a já falecida Charlotte Offlow Fawcett. Frequentou as melhores escolas do Reino Unido, cursou na Universidade de Oxford, onde cultivou a paixão pela literatura, a história e os períodos clássicos.

 Nascido em Nova York (EUA), com o nome Alexander Boris de Pfeffel Johnson, tem antepassados muçulmanos e judeus, além de cristãos. Escolheu a carreira jornalística, com passagens pelo "Times" e "Daily Telegraph", e atuou como correspondente em Bruxelas, para narrar os fatos da União Europeia.

Porém, a carreira teve textos com exageros retóricos, se não fake news como as conhecemos hoje, que também foram relembradas pela oposição durante a campanha do referendo do Brexit em 2016.

Essa "propensão" acabou virando o seu calcanhar de Aquiles e que foi relembrado pela oposição nos últimos meses, a de "mentiroso patológico".

Johnson foi acusado de mentir em seus discursos na Câmara dos Comuns sobre o escândalo Partygate - quando ele e funcionários de seu governo violaram regras sanitárias para conter a Covid-19 - e em outros escândalos. E isso o seguiu até o caso "fatal" da cobertura dada ao ministro e assessor Chris Pincher, o "apalpador" de vários homens.

A sua carreira jornalística atingiu o ápice com a nomeação a ser diretor do jornal conservador "Spectator".

Já a entrada na carreira política aconteceu em 2001, quando faz uma estreia bombástica assumindo uma cadeira no Parlamento. Em 2004, chegou a ser por alguns meses vice-ministro na pasta de Cultura, mas perdeu o cargo após ter mentido sobre uma das não poucas relações extraconjugais. É também alvo de diversas matérias dos famosos tabloides britânicos por conta de sua conturbada vida pessoal.

Johnson tem sete filhos (conhecidos) e se casou três vezes. A esposa atual, Carrie Symonds, esteve ao seu lado nos três anos em que ele esteve em Downing Street, com quem teve mais dois filhos.

E, contra a primeira-dama, também pesam acusações de interferência nas equipes de governo, que a levaram para um confronto com conselheiros revelado pela mídia, incluindo o ex-poderoso "guru" da Brexit, Dominic Cummings - figura fundamental na ascensão e queda de Johnson.

A careira política de BoJo decolou com as eleições para prefeito de Londres em 2008, onde permaneceu por dois mandatos consecutivos até 2016. Nesse tempo, preparou seu retorno para a Câmara dos Comuns, em maio de 2015. E rapidamente se colocou como fiel aliado do então premiê e velho amigo, David Cameron, até se tornar um paladino pela saída do Reino Unido da União Europeia.

A vitória no referendo, porém, não permitiu que ele se lançasse rapidamente à liderança do Partido Conservador, que para o depois de Cameron, foi para Theresa May. No governo, recebe o cargo de ministro das Relações Exteriores, que acaba largando em julho de 2018 após uma série de embates com May.

A vingança vem em 2019, com a designação com apoio amplo para que ele assuma o lugar de May e o triunfo histórico nas eleições de dezembro contra o Partido Trabalhista de Jeremy Corbyn.

A ampla maioria conquistada permitiu enfrentar o período de transição da Brexit e as difíceis tratativas com a UE, introduzir reformas controversas sobre a imigração restritiva, com a promessa de oferecer um futuro de prosperidade a um país finalmente livre de Bruxelas.

No entanto, surgem desafios históricos como a pandemia de Covid- 19 - que o atingiu de maneira própria e dramática com internação de três dias em uma unidade de terapia intensiva e o escândalo do Partygate, os encontros governamentais de violação do lockdown e a punição recebida da polícia, a primeira da história para um premiê no cargo no reinado de Elizabeth II.

A sucessiva retomada econômica foi atrasada por conta da crise energética e da guerra na Ucrânia. Mas, Johnson afundou com a multiplicação dos escândalos todos internos: a violação das regras, os comportamentos e padrões de conduta considerados talvez não tão importantes por aquele homem que, quando menino, queria ser o rei do mundo.

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