O Repórter

Por que a terceira via com Ciro Gomes foi um fracasso?

Pedetista teve problemas de comunicação com o povo, que não comprou suas ideias

Por Alex de Souza | OREPORTER.COM
04 de outubro de 2022 às 01:09
Atualizada em 04 de outubro de 2022 às 10:41
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reprodução / redes sociais
Em sua quarta eleição presidencial, Ciro Gomes perde pela primeira vez no Ceará.
Em sua quarta eleição presidencial, Ciro Gomes perde pela primeira vez no Ceará.

RIO - A tal chamada terceira via, uma corrente política que promete ser diferente do que aí está, fracassou mais uma vez. Desta vez com Ciro. E qual o motivo? Talvez seja tão simples de explicar que eu até me atrevo: a comunicação.

Primeiro, o termo "terceira via" cunhou-se para presentar uma alternativa às propostas econômicas associadas à direita e à esquerda, além de defender, entre outros pontos, a responsabilidade fiscal dos governantes, o combate à miséria, uma carga tributária proporcional à renda, com o Estado sendo o responsável pela segurança, saúde, educação e a previdência.

Como adiantei, vamos ter como ponto de partida ou exemplo, Ciro Gomes. Político experiente, estudado e arretado como diria o povo da terra onde foi criado, o Ceará.

Pegando um exemplo, Ciro foi aceito como visitante pela universidade de Havard, uma das melhores do mundo, e teve carta branca para utilizar a estrutura da faculdade de Direito e conduzir pesquisas. Cereja do bolo.

Sem se apegar à cronologia de currículo, Ciro foi professor universitário, prefeito, governador, ministro da Fazenda, da Integração Nacional, deputado federal, Secretário de Saúde, diretor da CSN, candidato à Presidência da República por três vezes.

Preparado, com esse currículo, todos podemos dizer que está. Mas por que o povo jamais deu a ele um voto de confiança para governar a nação?

Ciro é como aquele jogador de futebol que sabe que é craque, joga em várias posições, mas que não é convocado por não seduzir o técnico da Seleção.

Ciro é o Romário da Copa de 1998. Marrento, falastrão. Diz que faz e acontece e faz mesmo. Mas apenas se lhe dão chance para isso. Romário foi o nome da Copa em 1994, esteve em seu auge quatro anos depois e, mesmo assim, foi preterido. Zagallo, Luxemburgo e Felipão não quiseram comprar o barulho.

Em entrevistas, o Baixinho disse que não guardava mágoas, mas quer "que todos eles "se f@$%". E garante, ainda nos dias de hoje, que teria condições de estar nas Copas de 1998 e 2002.

Vai perguntar para o Ciro se ele teria condições de governar o país pelos próximos quatro anos. A resposta pode até ser mais polida do que a do hoje senador reeleito Romário, mas certamente com afirmação idêntica.

E por que diabos Ciro teve a sua pior participação em campanha política à Presidência da República? Porque ele esqueceu de falar para o povo. Se emaranhou em termos técnicos, foi engolido pela soberba do conhecimento, falou difícil até para os seus.

No Ceará, o pedetista não chegou aos 7% do eleitorado. Um fracasso retumbante se olharmos para três últimos pleitos em que ele foi candidato.

Em Pindamonhagaba, muncípio onde nasceu, a votação foi constrangedora. Ciro ficou na quarta posição, atrás de Simone Tebet, com 3,42% dos votos, o que totaliza pouco mais de 3 mil votos. Bolsonaro foi expressivo, mais de 50 mil votos com 56,13%. Uma lavada em terra de Ciro.

O pedetista era o candidato com o plano de governo mais palpável. Auxílio de R$ 1mil para as famílias, ajuda aos brasileiros para saírem do SPC/Serasa, fazer girar a economia, etc. E por que não convenceu?

Ciro não convenceu porque faltou o carisma de Lula e a cara de pau de Bolsonaro. Esses dois, de modos peculiares, falam com o povo. Lula usa a linguagem coloquial como ninguém. Ele consegue tornar um erro gramatical ou trocar um nome por outro ficar engraçado, até bonitinho.

No último debate, da TV Globo, Lula chamou a candidata Simone Tebet, de "Simone Estébi". Depois, mesmo sem ter certeza, disse que no dia 2 de outubro mandaria Bolsonaro pra casa; chamou o padre Kelmon de impostor e lembrou do churrasco e da cerveja. Lula até brincou com Ciro dizendo que o pedeteista era feliz quando ele, Lula, era o presidente do país. Nada disso era proposta de governo, mas afago ao povo que ouve e que precisa entender de primeira.

Do outro lado, Bolsonaro, do "Deus, Pátria e família". Só com isso, e de maneira meio que incompreensivel, o ex-capitão mexe com 81% da população brasileira (50% católicos e 31% evangélicos). Toscamente, ele sabe se fazer compreender para o seu público-alvo e arrebanha outros que não se sentem incomodados com o politicamente incorreto. O presidente, vez por outra, pede desculpas pelas "caneladas" e pela expressiva votação no 1º turno, nota-se perdoado.

Ciro é técnico, tem números na cabeça. Fala com propriedade, diz o que vai fazer, de onde virá o dinheiro. Dá exemplos e apresenta o Ceará. Em 1994, quando deixou o governo cearense para ser o ministro da Fazenda de Itamar Franco ostentava 74% de aprovação, de acordo com o Datafolha. Como pode tudo isso se esvair? Comunicação falha com a massa.

A dona de casa não entende PIB caindo ou subindo, mas se preocupa com os preços no mercadinho da rua, o caminhoneiro não saca de commodities, mas entende de mercadoria. O trabalhador brasileiro que enfrenta 2 horas de transporte público para chegar no trabalho não faz a mínima ideia de que o valor do petróleo Brent impacta diretamente no preço da tarifa que ele paga.

Ciro domina toda essa linguagem. Além disso, é capaz de discorrer sobre variados assuntos. Convidado para uma live do Youtube, enquanto o apresentador falava de jogos, ele tomou a palavra e com propriedade disse que "o mercado de games é muito mais rico hoje do que cinema e música juntos". Esse é o Ciro.

É claro que Ciro tem defeitos e muitos. Mas, que neste momento, não cabem aqui. Essa comparação superficial traz à tona o lado positivo dos candidatos e tenta nos fornecer argumentos para responder por que Ciro fracassa pela quarta vez, no que poderia ser considerado o auge dele e o respiro da política com a tal terceira via.

Por fim, sejamos honestos. Você tem uma mega empresa e precisa de um executivo para gerí-la. Chegam às suas mãos os currículos de Bolsonaro, Lula e Ciro. Qual deles você contrata?

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