O Repórter

Reino Unido ordena extradição de Julian Assange aos EUA

Para Wikileaks, hoje é ¨dia sombrio¨ para liberdade de imprensa

Por Agência Ansa
17 de junho de 2022 às 09:14
Atualizada em 17 de junho de 2022 às 09:16
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Ansa
Apoiadores fazem manifestações constantes pela liberdade de Assange
Apoiadores fazem manifestações constantes pela liberdade de Assange

LONDRES - A ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, assinou nesta sexta-feira (17) a ordem de extradição para os Estados Unidos do jornalista e fundador do Wikileaks, Julian Assange.

Assange é acusado de 18 crimes nos EUA, entre eles espionagem, por ter vazado documentos secretos do país sobre crimes de guerra cometidos pelas forças nacionais nas guerras do Irã e do Afeganistão. Ele ainda é acusado de "conspirar" com a ex-analista Chelsea Manning para obter documentos secretos.

Se condenado por todos os crimes, pode pegar até 175 anos de detenção.

No entanto, mesmo com a decisão de Patel - que veio após o Tribunal dos Magistrados de Westminster autorizar a extradição -, Assange não será enviado imediatamente aos EUA.

Sua defesa agora tem 14 dias para tentar um último apelo contra a decisão da ministra na Justiça. No caso (praticamente certo) de nova derrota no Reino Unido, ainda há a possibilidade de recorrer ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos, em Estrasburgo, órgão do Conselho da Europa do qual Londres faz parte.

"Em 17 de junho, na sequência da decisão do Tribunal dos Magistrados e da Suprema Corte, a extradição aos EUA do senhor Julian Assange foi ordenada. O senhor Assange conserva, todavia, o direito de entrar com uma apelação dentro do período normal de 14 dias", diz o comunicado do Ministério do Interior.

Ainda conforme a nota, Patel afirma que as cortes judiciais britânicas "não verificaram o risco de abusos, de um tratamento injusto ou opressivo contra Assange no âmbito do processo de extradição".

"E nem verificaram um risco real que nos Estados Unidos ele possa ter um procedimento incompatível com os seus direitos humanos, incluindo o direito a um processo justo ou com base na livre expressão", acrescenta a nota, dizendo ainda que o australiano "será tratado de maneira apropriada também na questão de sua saúde".

Após a decisão, o Wikileaks emitiu uma nota em que afirma que a decisão da ministra faz com que "hoje seja um dia sombrio para a liberdade de imprensa e para a democracia britânica".

"Julian não fez nada errado. Ele não cometeu nenhum crime e não é um criminoso. Ele é um jornalista e um editor, e está sendo punido por fazer seu trabalho. Priti Patel teve o poder de fazer a coisa certa. Ao invés disso, será lembrada para sempre como uma cúmplice dos Estados Unidos em sua agenda de tornar o jornalismo investigativo uma atividade criminosa", diz a nota publicada em suas redes sociais.

Chamando o caso de uma "questão política", o Wikileaks ainda afirmou que esse "não será o fim da história" e que continuará lutando pela liberdade de seu fundador.

Também em nota, a Anistia Internacional afirmou que "permitir que Julian Assange seja extraditado para os Estados Unidos significaria expô-lo a um grande risco e mandar uma mensagem angustiante a todos os jornalistas do mundo".

A secretária-geral da ONG, Agnes Callamard, condenou a decisão da ministra britânica e afirmou que as acusações norte-americanas são insuficientes e não críveis. Ainda conforme a líder, "o isolamento prolongado na prisão, coisa que viola a proibição de tortura e maus-tratos" tem precedentes na história norte-americana, incluindo no "período recente".

Por isso, a AI, em nome de várias organizações humanitárias, relança o apelo "ao Reino Unido para renunciar ao procedimento de extradição de Julian Assange" aos EUA e para Washington "retirar as acusações contra ele", além de garantir que o australiano seja colocado em liberdade.

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